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Vício

  

 

 

Tu nunca bates no meu pensamento à hora de entrar.
Chegas de repente, invades tudo, e é impossível te expulsar
por que então já sou eu que te procuro.



Não escolhes momento. É na hora séria ou na hora triste,
na hora romântica, ou na hora de tédio
por mais que me encontres fechado em mim mesmo
entras pelo pensamento, – clara fresta, vulnerável
às lembranças do teu desejo.

 

E quando chegas assim, estremeço até regiões ignoradas
me levanto, e saio, sonâmbulo, a te buscar
a caminhar a esmo …

 Chegas – como uma crise a um asmático, – e então
[preciso de ti
como preciso de ar,
e tenho a impressão de que se não te alcanço, se não
[te encontro,
vou morrer, miserável, como um transeunte nas ruas,
antes que o socorro chegue para salvá-lo …
alcançar-te é um suplício …

Teu amor para mim – é humilhante a confissão
-D
epois que consegues atingir meu pensamento
tua posse é uma obsessão,
não é amor, é vicio …

(Poema de JG de Araujo Jorge
do livro – Harpa Submersa – 1952)